Entre eu e você existem duas possibilidades: uma ponte ou um muro. As desavenças nascem do nosso olhar para o muro na mesma proporção que as alegrias surgem do nosso foco para a ponte. Sob a perspectiva do muro, sofremos. Sob a perspectiva da ponte, integramos.
Eu sei que feridas minhas latentes podem ser por você tocadas (mesmo que sem intenção), mas, ainda assim, pode-se escolher a ponte ao muro. Eu sei que posso também (mesmo que sem pretensão) expor vulnerabilidades suas escondidas, mas, mesmo nesta circunstância, pode-se optar pela ponte no lugar do muro.
Convencionou-se chamar a ponte de "amor". Convencionou-se nomear o muro de "nossos egos".
A falsa ilusão de segurança dá-se pelo muro. A verdadeira inteireza de completude dá-se pela ponte. Nossos egos nos fazem perceber um ao outro como separados, como se eu precisasse defender-me de ti e vice-versa. O Amor restabelece a verdade que nossos egos não podem enxergar: que não há do que se proteger. O Amor nos cura um do outro.
Eu sei que eu costumo projetar em ti o que é insuportável enxergar em mim, mas, ainda assim, pode-se escolher o amor à ilusão separatista. Eu sei que você costuma enxergar em mim aquilo que é inadmissível perceber em ti mesmo, porém, mesmo assim, pode-se optar pela ponte no lugar do medo, da culpa e do pecado encastelados nos muros dos nossos egos.
Talvez demore eras para que se perceba que a salvação se dá pela ponte e não pela separação. Mas sendo o tempo relativo e condicional, ele mesmo pode dissolver-se sob a verdade final do Amor. Talvez não exista espaço suficiente para o espalhamento da maldição dos muros, como a nos mostrar que não há lugar infinito o bastante para a fragmentação infindável de egos. Mas sendo o espaço também relativo e condicional, ele mesmo também pode vir a permear-se com a ubiquidade última do Amor.
Entre eu e você está posto o que se pode conhecer. Entre eu e você estão as nossas lições. Entre eu e você estão todos os desafios e oportunidades. Entre eu e você reside o propósito de tudo.
(A norma culta da língua portuguesa foi desconsiderada propositadamente nesse texto para efeito semântico.)
Leonardo Lourenço
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